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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Camumbembe

Com a boca cheia de palavras lisonjeiras,
foste aos poucos aliciando a borboleta do jardim,
mas nesta vida nada dura para sempre,
muito menos tuas pulhas.

Tudo findou-se,
a borboleta descobriu tua verdadeira natureza,
de que tu não passas de um camumbembe,
em que moscas vão para dejetar.

Então vá.
Vá para aquela corja,
e vire dela o capacho.

Ande e transponha-se logo deste jardim,
aqui nada mais é teu,
somente a ojeriza.

Lembre-se de que:
aqui não há lugar para escória.


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Boneca de Porcelana.

O chão estava gelado, mas ao menos amenizava a dor de seu corpo. Seus braços com marcas roxas, pernas com o sangue já seco, suas costas com cortes ainda abertos e seu rosto inchado, porém não era por causa do choro.
A chuva caia com força sobre a casa, ela conseguia ouvir o barulho da goteira,
Pinga,
Pinga,
Pinga...
Quando mais nova ela ainda chorava. Suas lágrimas viviam caindo sob o céu estrelado, enquanto tentava dormir. Em seus sonhos desejava mais que tudo outra vida. Seu corpo era tão novo quando descobriu a dor.
Pinga,
Pinga,
Ping
Sempre que possível ela tentava lembrar dos dias felizes de uma passado distante em que havia vivido. Uma parte dela ainda tinha esperança de um futuro melhor.
Pinga,
Pinga,
P
Os dias iam passando e ela chorava com menos frequência, até  não haver mais lágrima alguma, e por mais forte que a machucasse, aquele homem já não ira mais ouvir os berros dela.
Pinga,
Pin
Não havia mais pranto. Seu coração tinha secado por completo. A esperança e seus sonhos foram todos embora. Ela estava completamente oca, era uma casca de hematomas, simplesmente uma boneca de porcelana quebrada.
Pi
Nesse instante, a pequena fecha seus olhos em oração, mas não em busca de salvação como fazia antigamente, agora ela sabia que isso nunca ocorreria. Estava pedindo que sua alma deixasse seu corpo e esse mundo desgraçados. Não aguentava mais, sua mágoa e dor eram grande demais para sua frágil estrutura, e por isso pedia piedade aos céus para que realizassem ao menos esse seu pedido
P.
Já não mais escutava a goteira, e ela finalmente pode ver o verdadeiro sol.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Lembranças

Juramos  nunca  esquecer  das coisas que  construímos,
de tudo que falamos.
Anos se passaram, amores vieram e também se foram,
tudo mudou.
Conhecemos lugares,  comidas, amigos e  muito  mais, 
 como foi bom!
Agora  já  não somos  mais   tão  jovens  como  antes,
somos velhos com lembranças.
Mas esquecemos do que já nos foi o mais importante,
tudo que vivemos juntos.
Abro um   pequeno  caderno,  e  dele   cai  um  papel,
escrito nele um poema.
Sim, um poema bobo de amor, que escrevi para você,
era tão nova.
Antigas memórias me bombardeiam como aviões a jato, 
coisas que já não lembrava.
Lembro de como era bom e reconfortante segurar tua mão,
cheirar teu pescoço.
Lembro de como brigávamos e fazíamos as pazes rapidamente,
e como fizemos isso.
Lembro de que você sempre esteve ao meu lado me consolando,
não importando o horário.
Lembro de como simplesmente deixamos de nos falar,
tão de repente.
Lembro que começamos a cada um viver sua vida,
um distante do outro.
E  também  me  lembro  da  promessa   que  um  dia   fizemos,
e que eramos tão jovens.
Havíamos prometido que por mais que o tempo passasse e desafios viessem,
um do outro não esqueceríamos.
Nunca nos passou pela cabeça que somos humanos e é simplesmente natural
esquecer.
Não sei se você ainda vive, se é casado, rico,
ou se tem filhos.
Entretanto se um dia você chegar a ler esses versos
quero que saiba.
Que sem sombras de duvidas alguma, 
eu amei você. 

Borboletas

        Sentada sobre a terra batida, seu coração estava acelerado e seu corpo suando, não havia sobra alguma para se refrescar e já estava cansada de procurar, então ficou por ali mesmo, encostada em um muro qualquer.
         Enquanto descansava, seus olhos depararam um pequeno casulo branco abrindo-se e saindo de lá uma bela borboleta azul, que a fez divagar em seu pensamentos, como o de querer ser como aquela borboleta, que se libertou de seu passado e está começando um novo futuro. 
          "Ah como devia ser triste a vida dessa borboleta enquanto ainda era uma pequena larva, os animais queriam come-la, era tachada de nojenta, perigosa e repugnante por humanos que faziam de tudo para mata-lá com venenos, sapatos e vassouras. É com certeza ela não sabia o que era o amor, mas mesmo assim ela lutou para continuar sua vida. Entretanto sempre chega uma hora que, apesar de querer continuar, simplesmente lhe falta força para isso, e o que você mais quer é se esconder do mundo e ficar só, isolado de todos, pois foi isso mesmo que ela fez, construiu uma barreira entorno de si, deixando a dor tomar conta de seu ser, suas agonias, sua dores, suas mágoas, colocou tudo para fora, deixou de guarda-las em seu pequeno coração que já estava saturado disso.
        E depois de algum tempo ela finalmente sente seu corpo leve, sem mais mágoa. Finalmente está na hora de deixar seu refugio e viver uma nova vida. Por isso ela deixa para trás seu casulo, juntamente com todo seu passado, e vai em busca de algo novo e com ajuda de suas asas ela deixa-se levar pelo vento e vai explorar o imenso azul.
          Borboletas... como gostaria de me desprender das coisas como vocês, viajar pelo céu, sem nenhuma corrente em meu corpo. Ah como seria bom..."
          Um pequeno sorriso surge em seu rosto, juntamente com uma pequena partícula de esperança de que tudo um dia poderia mudar. Mas por enquanto isso não ocorreria, então continuava sentada sob o sol descansando um pouco da vida.

Primavera

Quem diria que estaríamos aqui,
Deitados no chão da primavera,
Olhando desenhos em nuvens,
Citando versos aleatórios.

Somos jovens e imaturos,
Fingindo ser adultos,
Filosofando sobre a vida,
Reinscrevendo o passado.

Agora você acende teu cigarro,
E eu te chamo de drogado,
Mas é verdade que eu adoro teu perfume misturado
Com o cheiro do tabaco.

Você me abraça e me reconstrói,
Você me beija e me esmera,
Você me faz esquecer do passado
E só viver do presente.

Somos loucos,
Somos felizes,
E mesmo que não dure,
Faremos com que cada segundo seja um pouco da eternidade.


sábado, 5 de outubro de 2013

O Mar

        Ainda era cedo, não havia mais ninguém por lá além dela. Sua cabeça estava confusa, não entendia mais nada, mas agora sentindo a leve brisa marítima seus pensamentos começaram a se organizar. Ela não entendia bem o que estava sentindo, talvez insegurança, talvez solidão, não importa, o que sabia era que faltava algo em seu ser.
        Seus pés agora já alcançaram a água gélida, um arrepio cresceu em seu corpo, mas sabia que devia continuar. Quanto mais avançava mais, mais ficava envolvida pelas águas escuras, quando chegou a seu peito ela parou.
        Respirou.
        Mergulhou.
        Deixou-se envolver pelo mar, por toda sua amplitude, todo seu mistério, já não pensava em mas nada, ela só queria fazer parte daquele imenso líquido salgado.
          O seus pulmões pediam por ar, entretanto não queria sair dela, e involuntariamente abriu seus lábios, deixando com que a água salgada entrasse em seu corpo, mas logo levantou-se e deixou o ar entrar. Sua garganta ardia, porém sua alma pedia mais disso, ela queria provar de novo, de certa forma isso a fazia sentir-se um pouco mais inteira.
           Então com sua mãos cheias de água marinha tomou um gole, depois outro e outro, até ficar satisfeita. De alguma maneira estava confortada, totalmente preenchida, estava mais forte para seguir sua vida.
         Sim é esse efeito que o mar mar faz com todas as mulheres, ele é nosso grande homem que nos conforta, limpando nossos corpos e nossas almas.