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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Boneca de Porcelana.

O chão estava gelado, mas ao menos amenizava a dor de seu corpo. Seus braços com marcas roxas, pernas com o sangue já seco, suas costas com cortes ainda abertos e seu rosto inchado, porém não era por causa do choro.
A chuva caia com força sobre a casa, ela conseguia ouvir o barulho da goteira,
Pinga,
Pinga,
Pinga...
Quando mais nova ela ainda chorava. Suas lágrimas viviam caindo sob o céu estrelado, enquanto tentava dormir. Em seus sonhos desejava mais que tudo outra vida. Seu corpo era tão novo quando descobriu a dor.
Pinga,
Pinga,
Ping
Sempre que possível ela tentava lembrar dos dias felizes de uma passado distante em que havia vivido. Uma parte dela ainda tinha esperança de um futuro melhor.
Pinga,
Pinga,
P
Os dias iam passando e ela chorava com menos frequência, até  não haver mais lágrima alguma, e por mais forte que a machucasse, aquele homem já não ira mais ouvir os berros dela.
Pinga,
Pin
Não havia mais pranto. Seu coração tinha secado por completo. A esperança e seus sonhos foram todos embora. Ela estava completamente oca, era uma casca de hematomas, simplesmente uma boneca de porcelana quebrada.
Pi
Nesse instante, a pequena fecha seus olhos em oração, mas não em busca de salvação como fazia antigamente, agora ela sabia que isso nunca ocorreria. Estava pedindo que sua alma deixasse seu corpo e esse mundo desgraçados. Não aguentava mais, sua mágoa e dor eram grande demais para sua frágil estrutura, e por isso pedia piedade aos céus para que realizassem ao menos esse seu pedido
P.
Já não mais escutava a goteira, e ela finalmente pode ver o verdadeiro sol.

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